A heroína expandesuas fronteiras
Anna Paula Buchalla
O consumo de heroína no Brasil está intimamente ligado ao fato de que ela passou a ser produzida na Colômbia. Ou seja, o acesso ficou bem mais fácil. Os chefões do tráfico do país vizinho resolveram entrar no negócio nos anos 90, quando o preço da cocaína começou a despencar. Há vinte anos, 1 grama de cocaína valia 100 dólares. Hoje, sai por 4 dólares, no máximo. Um grama de heroína, por sua vez, custa atualmente algo em torno de 200 dólares. Esse, digamos, redirecionamento estratégico fez com que a Colômbia se transformasse em pouco tempo num dos maiores produtores de heroína. Cerca de 12% da droga que roda o planeta tem origem colombiana.
A heroína pode ser injetada, fumada ou inalada. A terceira forma é a que está mais na moda, porque não deixa marcas e evita o risco de contaminação pelo vírus da Aids, o HIV. Ao contrário da cocaína, que excita os sentidos e eleva a auto-estima de qualquer energúmeno, a heroína dá uma sensação de torpor e empresta à realidade contornos de sonho, como se não houvesse problemas e a pessoa pairasse acima do bem e do mal. Vários artistas famosos, de diferentes épocas, usaram heroína e se deram mal. Entre eles, Billie Holiday, Chet Baker, Miles Davis, Sid Vicious e Kurt Cobain. Layne Staley, ex-cantor do grupo Alice in Chains, morreu vítima da droga, assim como o ator John Belushi. John Frusciante, guitarrista do Red Hot Chili Peppers, permaneceu quatro anos vagando como mendigo pelas ruas de Los Angeles, antes de se curar do vício. A diferença entre a quantidade necessária para causar algum efeito e a dose fatal é muito pequena – o que explica o número mais elevado de mortes por overdose de heroína.
Em todo o mundo, o narcotráfico movimenta 400 bilhões de dólares anuais. A sua rede conta com uma logística de dar inveja a multinacionais e atende 180 milhões de dependentes. Destes, quase 10 milhões são consumidores de heroína. Com os atentados terroristas de 11 de setembro, em Nova York e Washington, a heroína tornou-se ainda mais atrativa para os traficantes. Isso porque, com o aumento da fiscalização nas fronteiras americanas e européias, ficou mais difícil contrabandear grandes carregamentos de cocaína e outras drogas. A vantagem da heroína é que pequenas quantidades, fáceis de transportar, proporcionam lucros altíssimos.
Os atentados terroristas nos Estados Unidos promoveram, ainda, uma mudança significativa no eixo de produção da heroína. O Afeganistão dos talibãs era o principal berço da droga. Ela servia para financiar o governo fundamentalista e a organização terrorista Al Qaeda, que ali mantinha o seu quartel-general. Os talibãs taxavam desde o plantio da papoula, planta da qual se extrai o ópio, matéria-prima da heroína, até a exportação da substância refinada. Isso lhes rendia cerca de 25 milhões de dólares por ano. A ofensiva americana destruiu a maioria dos campos de papoula e tirou do Afeganistão o título de campeão mundial na produção da droga. Hoje, os grandes produtores estão no Sudeste Asiático. São Mianmar (a antiga Birmânia), Tailândia e Laos, que formam o "triângulo dourado". A arma para combater a heroína nesses países (e um dia, espera-se, será também no Afeganistão e na Colômbia) chama-se desenvolvimento econômico. Na Tailândia, a indústria do turismo está encolhendo as plantações de papoula, com a construção de resorts e a inclusão de áreas inóspitas nos roteiros dos viajantes.
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